Por que Sentimos Empatia Pelo Coringa?

Li tantas resenhas sobre o filme Coringa, que havia decidido não comentar sobre ele depois que eu o assistisse, mas é impossível. Ainda estou digerindo esse filme perturbador e espero poder colocar meus pensamentos em ordem enquanto escrevo esse post, sem spoilers, é claro.

O comediante falido Arthur Fleck, sobrevive em meio a violência de Gotham City e a falta de compaixão dos governantes da cidade. Fleck cuida da mãe e ainda tenta conviver com uma doença mental. Parece muito para ele, e a loucura pode ser seu meio de escapar da realidade.

Em boa parte das resenhas em que tive contato, notei que as pessoas que assistiram o filme experimentaram certa medida de culpa por sentirem empatia por Arthur Fleck (vulgo Coringa). Mas a verdade é que esse sentimento de compreensão é natural, afinal, Coringa é o resultado da violência e do descaso humano. É fácil se identificar com o personagem. Caso você já tenha sido afetado diretamente ou indiretamente pela violência, se você tem raiva do governo, sofre ou sofreu com o bullying, ou se você convive com uma doença desconsiderada pela sociedade, será quase impossível que não se identifique com Arthur Fleck, a diferença é que ele não controla seus impulsos agressivos, e acaba se tornando o tão temido criminoso, Coringa.

Arthur Fleck é invisível, Coringa é a voz da minoria, o problema é que ele utiliza de perversidade para tal feito, e o nosso senso comum diz que isso é errado, mas no íntimo nos perguntamos, será que se não fosse dessa forma, com rebeldia e brutalidade, as autoridades governamentais voltariam seus olhares para as pessoas que precisam de ajuda? O problema é que o ser humano é egoísta e não percebe que mesmo aqueles de classes diferentes da sua, também sofrem. Não apenas Arthur Fleck, o pobre comediante rechaçado, mas Bruce Wayne, o milionário protegido e eterno Batman, também  surge como consequência da maldade.

A reflexão social do filme Coringa, é muito maior do que a expectativa de ação que estamos acostumados a aceitar em filmes baseados em heróis e vilões de HQ's. E eu que achei ser improvável encontrarem um melhor Coringa do que Hedge Ledger, fiquei impressionada com a atuação de corpo e consciência de Joaquin Phoenix nesse filme. Obrigada Joaquin por me fazer esquecer o Coringa cafajeste de Esquadrão Suicida.

Enfim, Coringa é opressivo, cruel e desconfortável, mas foi uma ótima experiência para mim, e no meu caso, não tenho culpa por sentir empatia pelo personagem.