Quer Café?

"Quer Café?" Era uma pergunta nada habitual. Esquecera sempre de lhe oferecer café por que não o tomava, então era difícil lembrar de oferecer a outros, principalmente a ele.

Perguntar se uma visita quer café é tradicional, uma boa dona de casa nunca deixa faltar a bebida na cozinha para que seus visitantes se sintam bem recebidos por uma xícara de café quente ao chegarem em sua casa. É lei, uma boa conversa, matar a saudade, fumar um cigarro, depois do almoço... Tudo isso, fica melhor quando há uma xícara de café para acompanhar. "Ah, por favor! Sinto muito se esqueço de oferecer, mas eu não tomo! Não consigo me lembrar se a visita quer café! Momentos bons são pedaços de felicidade que fazem a vida ser completa, mas nem sempre é necessário café. Isso não é uma lei!" Dizia ela.

Talvez não fosse estranho que ela não tomasse café. Temos direito de experimentar e abandonar aquilo que não nos cai bem. Afinal, ela tinha mal estar quando bebia, por isso, fazia isso no máximo uma vez por ano. Quando o cheiro era inebriante e conquistador, molhava pão dentro da bebida e comia. Pode-se dizer então que ela não tomava, e sim comia do café.

"Eu não me importaria de ir à casa de alguém e não me oferecerem café." Isso ela afirmava por que o estranho era quando ofereciam e ela recusava. "Isso ficou chato, a pessoa vai achar que eu recusei pra fazer desfeita." Pois é, café é sinal de amizade e respeito.

Ele, ao contrário, é do tipo que confia na bebida. Tomava ao acordar, depois de uma refeição era bom, e no lanche da tarde não o dispensava.

Quando ele a visitava. Havia o maior esforço por parte dela em se lembrar de oferecer café. "Faz parte dos bons modos."diziam a ela. Mas, mesmo com grande custo, ela não se lembrava. Se sentia incompleta por não poder te-lo feito sorrir com a entrega de uma xícara de café em suas mãos. Mal sabia que estar com ela era o único momento em que não importava se havia café ou não para acompanhar a conversa.

Com o tempo, por não fazer caso em relação a falta da bebida e prestar atenção nos seus costumes e palavras, ele descobriu que ela era diferente em tudo. "Também não gosto de Coca-Cola, prefiro Guaraná." ela confessou a ele. "Não me restrinjo a tomar apenas Coca-Cola. Pizza com Kuat também fica muito bom." Enquanto grande parte da população está tomando Coca-Cola e almoçando macarronada com frango assado no domingo, ela está comendo arroz com feijão e Guaraná, e isso não torna seu almoço menos especial com gosto de final de semana.

Atualmente é ele quem faz o café. No fim da tarde, vejo ele entrando em nossa casa depois do trabalho com uma sacola. E eu sempre digo a ela: "Trouxe Kuat para acompanhar a nossa janta!".